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OPINIÃO: A alfabetização é a luz

Hoje comemoramos o Dia Nacional da Alfabetização. E toda a vez que escuto a palavra alfabetização lembro da dona Maria, uma senhora de 69 anos que conheci num longínquo início de ano letivo, em uma escola da rede pública municipal. Estávamos fazendo as matrículas para a Educação de Jovens e Adultos, quando chegou a dona Maria acompanhada de um neto. De pronto, falou que queria se matricular na turma de alfabetização. Contou que nunca tinha frequentado uma escola, nem quando era criança, pois morava no interior do município e não tinha nenhuma escola próxima à sua casa. Como muito cedo começou a trabalhar e logo casou, os estudos foram deixados de lado.

Questionei-a sobre o que a havia motivado a estudar e ela respondeu que tinha sido a sua netinha mais nova, de cinco anos, que já estava aprendendo a ler e escrever e constantemente perguntava-lhe como escrevia determinada palavra e ela tinha que dizer que não sabia. Além disso, contou que só saía de casa acompanhada, pois não conseguia pegar um ônibus ou fazer uma compra sozinha. Decidiu que precisava aprender a ler para não depender mais das pessoas. Dona Maria nunca faltava a aula. Podia ser a noite mais fria do ano que lá estava ela, na frente da escola, esperando o sinal de entrada, para algumas horas de estudo.

Numa noite muito fria do mês de agosto, estávamos voltando do recesso de julho e só três alunos da turma dela compareceram à aula. Como a outra turma de alfabetização, também tinha poucos alunos, resolvemos juntá-las, só que dona Maria não gostava de ter aula com a outra turma de alfabetização, pois além de ter alunos já alfabetizados, eles eram bem mais jovens e barulhentos, o que, segundo ela, atrapalhava a sua concentração. Então, naquela noite, ela foi fazer as atividades dadas pela professora na minha sala. Quando dona Maria acabou as atividades, começamos a conversar sobre a família e as aulas. Ela contou de sua infância e juventude, falou no marido já falecido, nos filhos e netos. Mas uma frase dita por ela foi a que mais me marcou, que antes de ela vir para a escola, ela era cega e de poucas palavras.

Cega, porque vivia na escuridão, dependia dos filhos e netos para tudo. E de poucas palavras, porque escondia dos outros que não sabia ler. Contou que quando jovem arrumou um emprego numa casa de família, mas não revelou que não sabia ler, quando sua patroa deixava bilhetes para ela fazer ou comprar alguma coisa, ela entrava em pânico, pois não tinha a mínima ideia do que estava escrito. Disse que ninguém tem noção de como sofre uma pessoa analfabeta, porém a escola tinha mudado a sua vida para melhor, ela já estava reconhecendo o ônibus que tinha que pegar para ir para o centro da cidade e para voltar para casa, pois já conseguia ler o local na placa colocada no para-brisa.

Segundo dados da Unesco, há, no mundo, 758 milhões de adultos que, atualmente, ainda são analfabetos, sendo que dois terços desses números são de mulheres. O Brasil, de acordo com o IBGE, possui aproximadamente 8 milhões de analfabetos, o que demonstra que o dia da alfabetização deve ser lembrado, pois, no silêncio e na escuridão de quem não sabe ler nem escrever, a alfabetização, com certeza, é a luz que pode afastar de vez o sentimento de inferioridade e a exclusão social.

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